O número de casos de COVID-19 ao nível mundial e no nosso país tem vindo a aumentar, o que tem um impacto indiscutível na saúde física e mental da pessoa com diagnóstico confirmado, assim como para a sua família. O medo, a confusão, a frustração, o isolamento e todas as questões que nos surgem em catadupa, são sentimentos comuns, que se vão acumulando e que irão trazer com toda a certeza, a médio e longo prazo, consequências menos positivas.
Apesar de nos últimos meses, muitas famílias terem já optado pelo isolamento social, a verdade é que a maioria desconheceu até agora a dura realidade do confinamento obrigatório, realidade esta que obriga a uma enorme reestruturação familiar. Todo este cenário dantesco se agrava no seio das famílias onde existem elementos pertencentes a grupos de risco, nomeadamente pessoas com deficiência e/ou idosos.
Nós profissionais, que prestamos apoio a pessoas com deficiência, mas que, como o resto da humanidade, estamos a aprender a lidar com toda esta questão e que de há 7 meses a esta parte a nossa rotina passou a ser a de delinear e pôr em prática todas as estratégias que o conhecimento e a criatividade nos permitem, quando nos deparamos com um caso positivo e com o confinamento obrigatório percebemos o verdeiro sentido do cuidar, do cuidar de nós e dos outros!
Vamos de seguida, através de um relato real, dar-vos a conhecer um pouco do que temos vivido e aprendido.
Um elemento do agregado familiar de um cliente do Centro de Apoio à Vida Independente (CAVI) Horizontes testou positivo para a COVID-19. Trata-se de um idoso com um elevado grau de dependência, que tem como principais cuidadores a sua filha de 30 anos com deficiência intelectual e, o seu filho de 44 anos com doença mental. Os filhos só irão fazer o teste daqui a 1 semana. Enquanto isso não acontece, a prioridade imediata que nos surge é tentar evitar a disseminação do vírus. As regras do isolamento obrigatório são conhecidas pela equipa e tentamos transmiti-las à família. Ora bem, 1.ª regra - o pai deve ficar isolado num quarto, algo que para nós é totalmente possível na medida em que a família vive num T2, mas não, não é possível! O pai é invisual, logo bastante dependente em todas as atividades de vida diária, com demência e com uma personalidade muito própria e característica da idade avançada. Lá se vão as regras tão bem delineadas. A partir daqui, percebemos que teríamos de estar em articulação constante com a família e tudo o que nos parecia óbvio, deixou de o ser.
Nestes 15 dias a equipa tem feito contactos telefónicos bi diários realizados pela equipa técnica e diários pela assistente pessoal, no sentido de identificar e acautelar todas as necessidades, tentando esclarecer todas as dúvidas, de forma a se sentirem apoiados e diminuirmos de alguma forma o medo, a ansiedade e a frustração. Nestes contactos, a medição da temperatura dos 3 é avaliada “em conjunto” e é feito o seu registo, sensibilizamos a família para permanecerem em casa, são questionados sobre o seu estado de saúde e sobre as necessidades que possam existir, se deram banho ao pai, se usam luvas e máscara, se deixaram o lixo à porta de casa, devidamente acondicionado e, até como se faz sopa ou gelatina. Percebemos que o nosso apoio na orientação/organização de tarefas domésticas e na mediação de conflitos familiares que surgem por se encontrarem a atravessar uma situação particularmente delicada, tem sido bastante importante na restruturação das dinâmicas familiares. Nos primeiros dias, o nosso beneficiário e a irmã reagiram aos nossos insistentes contactos de forma um pouco relutante, talvez por se sentirem invadidos na sua intimidade, no entanto, com o passar dos dias percebemos que os mesmos passaram a ser esperados por eles e que lhes traziam tranquilidade e conforto.
Além de todo o trabalho de equipa CAVI/agregado familiar, temos estabelecido uma articulação estreita com um irmão do nosso beneficiário, que tem acompanhado de perto a sua família (como sempre o fez), acompanhando-os ao médico, assegurando os bens de primeira necessidade e todo o apoio e carinho que só a família pode dar. A articulação com o Centro Social e Paroquial de Silvalde (que assegura as refeições e a recolha do lixo), com o Centro de Saúde de Silvalde (administração do injetável no beneficiário no domicílio) e com o delegado de saúde (para orientação nos procedimentos inerentes a este processo), tornam esta intervenção mais completa e “feita à medida”.
Se existem fatores positivos nesta pandemia, a união de todos/as (entidades locais e regionais e comunidade) e o nosso crescimento profissional e pessoal são inquestionavelmente dois deles, porque as nossas capacidades de planeamento, inovação, reação, adaptação e resiliência são postas à prova diariamente e vão-se tornando mais evidentes dia após dia, fazendo de nós profissionais mais capazes e preparados e, melhores pessoas com toda a certeza!
Equipa CAVI Horizontes
Muito nos orgulha partilhar o vídeo de entrega dos Troféus aos Vencedores da 3ª edição do Prémio Fidelidade Comunidade, 2019.
Unidade Móvel de Apoio à Comunidade (UMAC) da Cerciespinho, foi um dos felizes contemplados.
Presentemente, estamos a concluir a intervenção com o 2º grupo, tendo no total realizado 34 intervenções a idosos e 10 a cuidadores informais, realizando no total 44 intervenções técnicas (ver gráfico abaixo).
Tendo em conta o impacto positivo no desempenho cognitivo dos beneficiários do 1º grupo, cujo beneficiariam de uma intervenção cognitiva personalizada e direcionada às suas necessidades, deu-se continuidade à intervenção, agora junto de um segundo grupo.
Os beneficiários constituintes deste novo grupo partilham de um declínio cognitivo nos mais diversos domínios (atenção, orientação, memória, linguagem, fluência verbal, raciocínio, capacidade visuoespacial, …), o qual se tenta colmatar através de uma intervenção que se baseia na dinamização de atividades de estimulação cognitiva com recurso a diferentes materiais manuais, os quais permitem ainda uma estimulação paralela ao nível da motricidade fina, como forma de potenciar a sua autonomia e qualidade de vida.
As sessões são organizadas previamente e realizadas no domicílio dos idosos, as quais permitem levar às suas casas a possibilidade de adquirirem e manterem faculdades essenciais, sem que para isso, sejam necessários esforços monetários e de deslocação que incapacitem o idoso. Existe também o cuidado de ceder regularmente, nomeadamente após a intervenção, manuais de estimulação cognitiva para que o idoso, de forma mais autónoma, continue a exercitar os diferentes domínios cognitivos.
Importa ainda realçar que a intervenção que tem vindo a ser realizada, tem também apresentado um forte impacto na melhoria da autoestima e da qualidade de vida dos idosos, assim como, indiretamente, tem resolvido problemas de isolamento social, sentimentos de inutilidade e maior capacitação mental e emocional.