E hoje, na nossa rubrica semana – Impacto do Serviço de Assistência Pessoal, partilhamos convosco o testemunho da Carol Soares, uma das 1.ªs pessoas a usufruir do nosso serviço. Este testemunho foi publicado na revista da Fenacerci em 2020, mas continua a ser bastante atual. Retrata uma história de vida baseada na resiliência e superação. Obrigada Carol pela força que nos transmite todos os dias e por nos levar a refletir mais profundamente sobre as questões da deficiência e da vida independente!

 

“A Assistência Pessoal como um fator essencial para o meu bem-estar, independência e qualidade de vida!”

Há, dezoito anos, o divisor de águas na minha vida foi um acidente de automóvel, no qual, ocasionou uma lesão medular. A cadeira de rodas tornou-se a minha aliada. Nunca me revoltei. É preciso continuar, sempre! Mas após vários internamentos, fisioterapias e a procura de uma cura milagrosa, o impacto com a realidade foi inevitável. Como seguir em frente? Procurando alternativas e, principalmente lutando por formas de alcançar os meus objetivos.

As pessoas com deficiência, adquirida ou congénita, são indivíduos com capacidades para tomarem as suas próprias decisões e escolherem os seus rumos. Mas, isso ainda não se sucede, de todo!

É um facto: a pessoa dependente está vulnerável. É urgente, a pessoa com deficiência abandonar a situação passiva e, deixar, se for o caso (o que é na maioria), de ser refém de um meio que não lhe proporciona as condições para exercer a sua cidadania. Através desta luta, as pessoas com deficiência começaram a mobilizar-se e deu frutos. Surgiu a implementação em Portugal do projeto piloto do Modelo de Apoio à Vida Independente (MAVI) que visa a emancipação das pessoas com deficiência.

Como tetraplégica, tornei-me dependente fisicamente e precisei de recorrer aos serviços do apoio domiciliário. Este serviço resumia-se basicamente a uma higiene no leito e, com muita persistência da minha parte, três banhos por semana. E, tinha que me sujeitar ao horário que me podiam vir levantar de manhã, de acordo com a rota dos utentes. Um serviço básico, completamente desajustado às necessidades de um ser vivo.

A minha integração no Centro de Apoio à Vida Independente Horizontes e com a atribuição da assistência pessoal, proporcionou-me poder escolher a hora que necessito, na parte da manhã, para me levantar, tomo banho diariamente (sem a pressa do apoio domiciliário), tenho a limpeza do meu quarto e do wc assegurada, a minha roupa lavada e organizada e as refeições preparadas e, também usufruo de acompanhamento imprescindível por parte de uma das minhas assistentes pessoais, às consultas, proporcionando-me bem-estar e mais qualidade de vida. De salientar que moro apenas com minha mãe idosa e, com problemas de saúde.

Este projeto, por ser piloto, obviamente, ainda tem algumas restrições, como o horário noturno e o número de horas atribuídas aos beneficiários. Mas chegaremos lá! Com certeza!

E sem dúvida alguma, está a dar-me oportunidade, porque quando solicito, consigo ter uma participação mais ativa na sociedade, fora do horário estipulado. Graças ao projeto, que me proporcionou o transporte e o acompanhamento de uma das minhas assistentes pessoais, participei no “1.º Sunset sobre rodas” no Porto, onde houve o debate sobre o sistema urinário nas pessoas com deficiência. Assim como também me permitiu participar no “III Encontro sobre lesão medular”, realizado no Centro de Reabilitação do Norte.

A pessoa com deficiência, quer e precisa de abandonar uma posição passiva. Deve tomar as suas decisões, escolher os seus rumos. Libertar-se da dependência das circunstâncias e das outras pessoas. Cada vez mais é preciso discutir a dependência em toda a sua dimensão e alcance, para aperfeiçoar o modelo e conseguirmos almejar os resultados pretendidos.

É preciso continuar esse caminho, o da independência. É longo o caminho, mas já estamos muito mais perto!!!”

Anne Caroline Soares

Foto Carol

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